Uma palavra é uma imagem que subsiste na nossa memória.
Tal imagem é independente da realidade que nos é presente: é produto do nosso passado. (todas as palavras que temos "hoje" são provenientes do nosso "ontem")
Designamos o que nos é presente com as palavras que temos.
Uma imagem que nos é presente torna-se dependente das palavras com que "olhamos" para ela.
Essa imagem é por isso mesmo, um conjunto de palavras. ( se falamos sobre essa imagem, se a opinamos, usamos sempre conjuntos de palavras: proposições, frases. ex.: podemos dizer que hoje está a chover: isto é uma designação para uma imagem presente. )
Uma palavra sozinha subsiste como imagem independente (ex.: podemos dizer que uma garrafa de vidro emite brilho quando lhe apontamos uma luz. Se isolarmos a palavra "brilho", ou "garrafa" elas subsistem e fazem sentido porque se referem a particularidades do nosso mundo: são imagens fixas.
Por isso, desde que uma imagem ou palavra esteja fixa no nosso vocabulário, estando ela isolada, torna-se simples de a compreender.
Tanto mais simples quanto mais antiga for. As palavras novas, ou as experiências novas, tal como um cão que acaba de se agrupar a uma matilha, serão tomadas como ameaças, são incertas, duvidosas, precisamente pelo facto de não fazerem parte da nossa - já consistente - cadeia de palavras/opiniões.
Outras opiniões só viriam abalar essa mesma consistência. (Explica-se aqui porque é que as pessoas são tão casmurras)
Nota: Os anúncios, na grande maioria, usam poucas palavras precisamente para serem de fácil compreensão.
A nossa memória sustenta as imagens que constroem a cadeia das nossas opiniões (palavras ou conjuntos de palavras: ideias)
Quanto menos imagens subsistirem na nossa memória, mais simples se apresentarão as coisas perante os nossos olhos.
Uma criança, com poucas palavras, nunca dirá muito acerca daquilo que lhe é presente. Nem tampouco um velho amnésico.
Então, o pensamento torna-se ridículo.
Não há pensamento.
Existem antes, imagens que são incutidas na nossa memória e que, a partir delas, tecemos a teia que designa o mundo que nos é presente.
Existem antes, hábitos que herdamos do ambiente em que crescemos (tal como acontece com os animais)
O acto de aprender uma palavra ou uma designação nova, pressupõe sempre palavras, imagens (experiências) já existentes previamente em nós.
Aprender é isso mesmo: fazer uma apreensão de uma imagem, símbolo, palavra ou experiência, na nossa memória.
Não existe apreensão se não encaixarmos coerentemente a nova imagem na cadeia de imagens que já nos constrói. por exemplo: um indivíduo não aprende o significado de "fração", se não tiver já assimilado o significado de "unidade".
Não tiramos muito partido de uma determinada experiência se ela não se revelar pertinente ou não se encaixar na nossa cadeia de ideias.
Os humanos só conseguem "pensar" na mesma medida que os animais "pensam".
Um animal desloca-se no seu território, ele conhece-o, ele domina-o.
O homem faz o mesmo. O que difere é somente o número de imagens perpetualizadas (palavras,símbolos,ideias) com que o humano designa o seu território - é um número muito superior ao número de imagens perpetualizadas pelos demais animais.
Neste sentido, o mundo que o humano designa, é diferente do mundo que o animal designa.
Também difere o desígnio do mundo de humano para humano: dois indivíduos têm sempre cadeias de palavras/ideias/experiências diferentes.
Os meios técnicos são produtos de uma contínua perpetualização de imagens e aglomeração destas. Hoje temos milhões de desígnios para cada especificidade do nosso mundo. e cada vez surgem mais.
Irmos á lua ou ao espaço, parte da mesma necessidade que o animal tem de procurar alimento para além do seu perímetro. E no fundo, ambos fazem essencialmente o mesmo - um deslocamento em prol de um mesmo princípio: sobrevivência…. apesar de eu gostar mais de lhe chamar a "busca do prazer".
André Rúben
sex
9/12/11
André Rúben
sex
9/12/11
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